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sábado, 25 de maio de 2013

O Sétimo Exemplar - 2

Cap. II – O Grito aos Céus


Terça-feira, dia nublado e atarefado, fui ao colégio e como a rotina era prevista, voltei são e salvo, sem o Jofrey para me atormentar. Michelly, na hora do intervalo, me indagou mais uma vez sobre o novo aludo da minha sala, estava me
acostumando com a ideia de que ela, estava se interessando pelo Vitor. Contei que vou fazer o trabalho de história com ele e Michelly ficou com brilho nos olhos e sorria, e no final, combinamos de ajuda-la, marcamos em minha casa, agora, era só falar com minha mãe, pois o Vitor já confirmara a presença.
E adivinha? Mais um trabalho! Agora é de artes, fazer algum instrumento por conta própria e testar em meio à sala toda! Eu nem sei se vou conseguir me levantar para ir lá à frente. Com todos aqueles olhares me fitando, me criticando.
Já com Vitor, já estava falando com ele sem aquele aperto no coração, mas continuava acelerado, em todas as vezes que eu olhava para ele, naqueles olhos verdes e em seu sorriso simetricamente perfeito. Incrivelmente, não tinha notado um pequeno alargador preto em sua orelha esquerda, parecia que minha percepção de detalhes não funcionava muito bem ao lado dele, até porque, eu estava preocupado com o que sentia dentro de mim: calores e frios percorrendo o meu corpo, desde os pés até os fios de cabelo.
O último sinal soa e me levanto para me retirar, mas sinto uma mão em meu ombro.
– Porque você não utiliza o ônibus? – questionou Vitor segurando a mochila em suas costas.
– Ah… minha casa não é tão longe, e prefiro voltar andando, melhor para o corpo. – respondi-o olhando ao chão e sentindo o calor que ele emanava de suas mãos pálidas.
– Ótimo, também preciso dar uma caminhada! – ele passa em minha frente olhando sobre os seus ombros, com o intuito de que o seguisse.
– O que? – especulei, seguindo-o.
– Isso mesmo que você ouviu! Vou com você, assim já conheço onde você mora.
– Mas você tem que voltar para casa, não avisou ninguém!
– Minha casa fica na mesma direção que a sua, ontem e hoje vim no ônibus, e pelas duas vezes, vi você andando na rua. Vi aquela hora que o vento soprou coma s folhas. Apenas notei que uma folha se alojou em seu capuz. – Ele sorri envolvendo-me com seu braço esquerdo enquanto nós andávamos. – Apenas foi o destino, te encontrar na mesma sala.
Pisamos na calçada cinza, viramos para a direita e passamos entre a árvore e o muro pintado de azul com a faixa horizontal branca, que se estendia até o fim dele. Atravessamos a rua com passos rápidos.
Percorremos até a metade do caminho sem nos pronunciarmos. Até que…
– Ahnn… David?
– Sim? – retruquei olhando ele chutar uma pedra no chão fazendo-a nos acompanhar.
– Falei pouco com ela, mas eu acho que a Michelly gosta de você!
– Eu sei, somos bons amigos. – respondi olhando os seus cabelos loiros, esvoaçarem com o leve vento.
– Não, você não me entendeu! Eu quis dizer, um sentimento além de bons amigos!
Semicerrei os olhos e as sobrancelhas se contraíram.
– Ahh, nunca tinha pensado nisso! – quase tropecei, mais uma vez, na calçada elevada.
Ele me segura pelo braço e consigo o equilíbrio novamente.
– Responda-me: você já namorou alguma vez? – perguntou ele me olhando do alto.
– N… não! Bem… acho que, por sua vez, já namorou muitas meninas, certo?
Ele sorriu olhando para o horizonte.
– Namorar é para beijar e ser feliz! Se for discutir e brigar, fico em casa com a minha mãe. – ele me olha com um brilho nos olhos – Sabe… gosto de conversar com você!
Eu desvio o olhar.
– Ahh… – coço a cabeça, envergonhado – mas por quê? Sou tão simples!
– Simplicidade! Essa pode ser a chave. E também, cansei de perder saliva com mentes que não processavam.
Isso foi um elogio? Apenas sorri e olhei ao chão.
– A Michelly gosta mesmo é de você, Vitor! – retrocedi a aquele assunto.
Ele ficou com a face levemente avermelhada. Vergonha? Acho que sim, pois ele não se atreveu a me responder, e continuamos a andar até na frente de minha casa.
– Bem, aqui é a minha casa! – pronunciei.
– Legal, não é longe da minha!
– Se esqueceu de que isso é uma cidade pequena?
Ele riu colocando suas mãos nos bolsos da calça.
– Prometo que vou me acostumar!
Ele fita dentro dos meus olhos e eu nos dele. Eu sem mover nenhum músculo, assim como ele. Aquele silêncio era tenso. Eu não conseguia parar de olhar para ele, não querendo que ele fosse embora. Droga! O que acontecia comigo?
Levantei as sobrancelhas.
– Bem… tenho que ir agora! – falei dando um passo de costas.
– Ah! Claro! Tenha um bom dia!
Virei de costas e entrei em minha casa.
Almocei, lavei a louça, peguei um livro e li algumas paginas até as 01h40min da tarde quando batem na porta. Era Michelly, tínhamos combinado de ela vir até minha casa para passarmos à tarde. Assistimos a um filme, jogamos algumas brincadeiras estratégicas até quase o sol se pôr, onde ela foi embora.
Meus passos eram rápidos no escuro, mas mesmo assim não me mexia. Atrás de mim, tinha alguma coisa negra, maléfica. Eu suava e tentava correr ainda mais, contudo não adiantava. Até que me deparo, em minha frente, um precipício.
Desespero-me, até que uma luz branca se emana em minhas costas. Viro-me e vejo uma porta aberta e dela saía uma silhueta de uma pessoa, que esticava sua mão a mim.
– Corra até mim! – pediu a silhueta.
Fiz o que mandara, corri o máximo e abracei-a sem ao menos saber quem o que ou quem era. Tudo fica branco, e olho para cima. Arregalo os olhos e a pessoa me beija.
– Ahh! – sentei ofegante e suado em minha cama.
Foi apenas um sonho! Ou um pesadelo? Aquilo não podia acontecer, e porque diabos eu fui sonhar que estava beijando… uma pessoa?
Sem mais delongas, levantei, me arrumei, comi um bom café da manhã preparado pela minha maravilhosa mamãe, escovei os dentes e saí rumo ao colégio.
Quarta-feira. Está sendo uma semana esquisita. Hoje, será o dia em que Michelly e Vitor iriam vir em minha casa para fazermos aquele trabalho de história. Cheguei ao colégio, Michelly e Vitor conversando em um canto do pátio, mas apenas acenei e entrei nos corredores rumo à sala. Não queria incomodá-los, poderia interromper alguma conversa mais íntima, ou coisa do gênero.
As primeiras aulas, antes do intervalo passaram rapidamente, Vitor saiu rápido da sala, e eu, fiquei resolvendo algumas contas de matemática que o professor tinha passado outrora.
Depois de terminado, quando faltavam alguns minutos para começar as últimas aulas, fui beber um pouco de água e ir ao banheiro. Quando fui tocar meus lábios na água do bebedouro, vejo Vitor beijando Michelly. Um selinho.
Perdi a sede, perdi a vontade de ir ao banheiro, perdi o gosto de estudar, perdi as forças, perdi o chão, mas ganhei, em meu peito, uma dor forte, um anseio gigantesco de correr dali.
Que merda acontecera comigo? Parecia que alguém estava apertando meu coração, sentia falta de ar, porém, olhei ao chão quase sem forças.
– Eu sabia. – falei a mim mesmo decepcionado.
Mas me perguntava, com um desejo ardente como um fogo de dragão: Por que eu estava sentindo aquilo? De fato, eu amava Michelly sem perceber?
Volto à sala correndo e me sento, apoio minha cabeça sobre meus braços trançados sobre a carteira e fecho os olhos. Tentando, desesperadamente, decifrar-me, tentar colocar alguma coisa do que sentia em palavras, mas sem êxito, desisti quando Vitor entrava na sala, depois de todos.
Nas suas costas, o professor das últimas aulas. Eu nem prestava atenção no que falavam, para mim, o tempo parara. O céu escurece, e finos pingos tilintavam na janela. Nem trouxera guarda-chuva, mas acredito que até no final da aula a fina chuva sessara.
Em minhas costas, um leve cutuque, era ele, olhei sobre os ombros e Vitor me alcançara um papel dobrado, peguei e o abri em meu colo.
“Não trouxe guarda-chuva, correto? Eu sabia que ia chover, então… se quiser voltar comigo para casa, eu te levo, meu guarda-chuva é grande”.
Vitor.
Não queria que ele me levasse para lugar nenhum! Agora eu estava com ódio? Respondi:
“Não precisa, gosto de me molhar!”
E entreguei a ele. Ele consentiu, mas acho que me estranhou. Ao fim da aula, pego minha mochila mais rápido que todos e saio correndo, rumo a minha casa, ouvia meus passos na água, e a chuva começara a ficar cada vez mais forte, o cheiro da terra molhada invadia meus sentidos, apenas fechava os olhos e queria esquecer, e sem eu perceber, lágrimas começam a escorrer de meus olhos.
Corria o máximo que podia, nem pensava em meus materiais, dane-se também! Ninguém na rua, apenas eu. Meus pulmões não aguentavam mais… parei, olhando a chuva no chão. Ajoelhei-me deixando meus materiais de lado. Uma agonia que não mais suportava.
– TIRA ISSO DE MIM! – gritei com o máximo de força que consegui com minha face em direção ao céu. – Eu te imploro! – agora, sussurrei.
Um raio se alastra ao céu, depois o trovão ecoa. Coloquei minha face em minhas mãos em forma de concha e não tinha como me segurar, chorei; sim… chorei muito.
Joguei, sem pensar, meus óculos na grama ao lado direito. Via agora, uma mancha vermelha em minhas mãos, me assustei, levando-as para longe da minha face.
– Sangue! – sussurrei. – Melhor morrer do que sentir isso.
Ainda de joelhos na calçada, apoio-me com as mãos e sem forças apenas esperava que alguma coisa acontecesse. Algum milagre, ou um raio me atingisse. Ouço passos apressados, mas os ignoro completamente. O concreto estava vermelho, sangue saía do meu nariz, em vasta quantidade. Sinto um envolver em meus braços que me levantou com força.
– DAVID! – gritou quem eu menos queria que estivesse ali. – está louco? Poderia ter sido atropelado!
Já não sentia mais a chuva no meu corpo, apenas ela escorrendo, estava de baixo de um guarda-chuva.
– Me deixa Vitor! – tentei tirar o meu braço de sua posse, mas não consegui.
– O que aconteceu? Responda-me!
Ele puxa meu braço para perto dele e eu, por instinto, o abraço chorando ainda mais com toda a minha força. Ele me envolvia com um braço e beijava-me minha cabeça com intuito de me tranquilizar.
– Escute-me: Vai ficar tudo bem, mas me diga o que aconteceu?
– E… eu te… te vi com Michelly! – sussurrei aos soluços.
Ele joga o guarda-chuva na grama, e me envolvem fortemente com seus dois braços.
– A verdade é que chegamos ao mundo, sozinhos, e saímos exatamente do mesmo modo. – Vitor pronuncia lentamente com um tom triste em sua voz. – Vamos garoto, vou te levar para casa.
Depois de alguns minutos me abraçando, pegou seu guarda-chuva e meus óculos, quando o coloquei, reparei sua camisa toda suja de sangue, assim como a minha. Pegou em minha mão, depois de colocar minha mochila em um de seus ombros. Andávamos rápidos, e Vitor, estava pensativo.
– O que você sente por mim? – perguntou ele engolindo seco, sem olhar para mim, apenas a sua frente.
Eu, de olhar baixo vendo o meu sangue misturado com agua cair no solo, não consigo respondê-lo, pois nem mesmo eu sabia o que sentia.
– Não sei. – depois de minutos, respondi baixinho com meus cabelos a escorrer colados na testa.
Segurando ainda a minha mão, ele a aperta em resposta. Não forte ao ponto de doer, mas para me mostrar outra coisa. Coisa que não decifrei.
Em frente a minha casa, ele se despede dando um beijo em minha testa.
– Vá, seu nariz ainda está saindo sangue.
Entregou-me meus pertences e me leva até a porta, passando pelo jardim. Ao entrar na residência, minha mãe me espera.
– Meu filho! O que aconteceu? – abraça-me – você demorou e o que é esse sangue? Alguém te bateu?
Eu apenas sorri. Ainda sentia o calor do beijo de Vitor em minha testa. O tapete começava a ficar molhado e meu gato cinza de olhos muito amarelos, a ronronar fitando-me. O cheiro da refeição pairava e minha barriga roncava. Sorri novamente, fui ao banheiro rapidamente me trocar de roupa e me lavar para tirar todo o sangue em minhas vestes. Secava meu cabelo quando o Felix – nome do meu gatinho – se esfregava em meus pés.
Minha mãe me especulou, mas não consegui falar, mas realmente, gostaria de tentar, para ver se aquilo saída do meu peito. Ainda estava lá, mas amenizou por algumas horas depois daquele berro que dei à chuva. Comida deliciosa que mamãe fizera, recuperei minhas energias e meu psicológico, mas ainda assim, sentia um resquício de dor.
A tarde passa, juntamente com a chuva, no céu, apenas o arco-íris que nos fitavam, pássaros brancos sobrevoavam aos céus, e tudo estava calmo.
Michelly me liga, me informando que não poderia ir a tarde a minha casa, estaria ocupada com outras tarefas que sua mãe as dera. Esperava, com receio, a vinda de Vitor.
Ele não apareceu. Sentia-me aliviado, mas ao mesmo tempo, decepcionado. Será que ele nunca mais falaria comigo depois de hoje?

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