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sábado, 30 de maio de 2015

Bad Boy

Nas Sextas-feiras Nunca Acontecem Coisas Ruins

Duas caras, falso, mentiroso, hipócrita, cruel, desleixado, folgado, estúpido, oportunista.
            Nenhuma dessas palavras - e nenhuma outra que fosse um dia criada pelo ser humano - jamais seria capaz de definir com exatidão o garoto loiro de olhos verdes que se encontra sentado algumas mesas a frente da minha.
            Alexei Rosengold, o Bad Boy.

            Sendo do segundo ano, assim como eu, Alex (como gostava que lhe chamassem) só poderia ser definido como "o-garoto-que-eu-mais odeio-em-todo-o-mundo-e-quero-bater-até-virar-pó". Não me pergunte o que ele fez para merecer todo o meu ódio, pois o simples fato de sua existência já é um fardo em minha vida.
            Estudamos juntos desde pequenos, e ele sempre foi aquele garoto mimado que acha que pode ter tudo, e o que não consegue, toma para si (usando muitas vezes de sua irritante beleza para contagiar as pessoas, ou a boa e velha agressividade). Brigávamos muito, e ainda o fazemos, qualquer coisa é motivo para um bate boca (não posso mentir, adoro discutir com aquele babaca) que sempre acaba com alguém nos separando. Nunca houve um vencedor.
            Infelizmente, devo dizer que Alexei é o tipo de pessoa que, com o sorriso certo pode conseguir tudo o que quiser, de quem quiser e da maneira que quiser. Não entendo como essas pessoas podem cair no velho truque do garoto incompreendido! As roupas pretas e rasgadas, além das pegadinhas e piadas de mal gosto entregam o lobo por trás da pele de cordeiro!
            - Você vai quebrar o garfo.
            Me assusto quando ouço a voz de Matt alta e grave ao meu lado. Eu sabia que ele estava lá, mas acabei me perdendo em pensamentos e esqueci que estou em uma mesa com pelo menos 10 adolescentes gritando e conversando coisas aleatórias (e muito provavelmente imorais).
            - O quê? - pergunto.
            - O garfo de plástico Jamie, você vai quebrar o...
            E antes que ele possa terminar de falar, ouço um estalo e pequenos e afiados pedaços de plástico branco voam para todos os lados, acertando os presentes na mesa.
            Espero a enxurrada de xingamentos cessar para pedir desculpas, e me viro para Matt., que me observa calmamente com aqueles olhos cor de âmbar, que eu gosto de comparar com o que poderia ser uma taça de Sol nascente.
            - Você estava apertando contra o prato com muita força. - ele observa.
            - Observação inteligente Matt. - resmungo.
            - E estava olhando para o Alex. Eu sabia que destruiria alguma coisa em alguns segundos.
            Bufo e reviro os olhos. Matt me conhece bem e é um grande amigo, nos conhecemos a um tempo considerável e nos gostamos muito. Tudo bem, talvez sejamos um pouco mais que amigos... Amigos coloridos no máximo... Nos beijamos vez ou outra... Ok, ok, talvez, e eu digo talvez, já tenhamos transado...
            Não que seja necessário um grande conhecimento sobre minha pessoa para saber o quanto eu repudio aquele loiro oxigenado!
            - Aquele cara é insuportável...
            - Você deveria parar de ficar pensando o quanto odeia ele, isso não vai te levar a lugar nenhum.
            - Vai sim, vai que eu jogo uma praga tão forte que ele explode?
            Algumas pessoas na mesa riem. Não tinha percebido que estão prestando atenção na conversa, mas não me importo, essa minha relação de ódio com Alex é bem conhecida. Ele também me odeia, então não me importo.
            - Desencana Jamie! - diz Susan, que está sentada no colo de seu novo namorado (posso deixar de fora a observação de que ela troca de companheiro toda semana). - Só ignora e pronto. Além do mais, ele não fez nada.
            - É - concorda o-garoto-da-Susan, que eu realmente ainda não me importei em decorar o nome. - Faz mais ou menos... 2 dias que ele não mexe com você! -  o pequeno cãozinho parece realmente animado.
            - É só questão de tempo.
            - Nãããão. - ele diz. - Nas sextas-feiras nunca acontecem coisas ruins!
            Sabe quando as pessoas dizem para não falar de algumas coisas, pois isso acaba atraindo essas determinadas coisas? Eu não acreditava nisso, mas acho que vou passar a acreditar. Sinto um líquido muito gelado cair nos meus cabelos e escorrer pela minha nuca, até entrar na minha camisa e percorrer minha espinha.
            Como reflexo arqueio os ombros e arregalo os olhos. Susan, sentada na cadeira da frente, também o faz e cobre a boca com a mão, enquanto seu namorado aperta os lábios. Todos na mesa parecem chocados ou confusos.
            Pela expressão de fúria no rosto de Matt, não preciso me virar para saber quem foi.
            - Nathalie me pediu para jogar o suco dela no lixo. - diz Alexei, depois joga a embalagem do suco na minha cabeça.
            Minha respiração acelera e juro que se me virar agora vou jogar o meu prato e todo conteúdo ainda presente dentro dele no rosto desse filho da mãe!
            - Qual seu problema, seu imbecil? - grita Matt, e se levanta em um pulo da cadeira. Giro devagar, ainda sentado, com o que agora sei ser suco, escorrendo um pouco nas minhas costas.
            Alex sorri sádico e cruza os braços. Realmente acho que ele fez isso para que a jaqueta de couro que ele usa marque seus bíceps. Ainda por cima é um narcisista de merda!
            Os olhos verdes brilham de divertimento e os cabelos loiros na altura dos ombros estão tão bagunçados quanto sempre. Tudo nesse popularzinho repugnante me irritada de uma maneira anormal.
            - Vai defender sua cadela Matthew? - ele pergunta. - Aliás, fiquei sabendo que ele cobra barato, pode dizer quanto?
            Meu coração bate muito rápido, tanto que quase o sinto doer! Quando estou irritado meu peito dói e se aperta e minha vontade é de esganá-lo ou xingá-lo de todos os nomes existentes, em todas as línguas conhecidas (ou não) até essa dor passar!
            Matt está vermelho ao ponto de parecer que vai explodir, e se fosse qualquer outra pessoa, ele muito provavelmente teria desferido um soco no olho ou algo assim, mas todos sabem muito bem que não se brinca com alguém que fez 4 anos de boxe, 3 de judô e 6 de Jiu Jitsu.
            - A única cadela aqui é a vadia da sua namorada! - respondo, também com os nervos a flor da pele.
            Ele somente ri.
            - Só estou dando uns pegas na Nathalie, e ela é realmente uma vadia. - diz ele, enquanto se vira e vai de encontro a saída do refeitório, onde estão seus amigos repugnantes. Ele pega uma garota pela cintura, que ri como uma idiota para ele e todos saem lentamente.
            No caminho, Alex bate a mão na bandeja de um menino alguns anos mais novo, muito baixo e cabelos estilo tigelinha. A bandeja cai no chão e derruba toda a comida do jovem, ele não faz nada, parece apavorado, e logo em seguida se vira e corre. O loiro oxigenado está gargalhando quando passa pelas portas duplas.
            - Nunca acontecem coisas ruins? - pergunto para o menino, e ele encolhe os ombros.
            - Vem. - diz Matt, colocando a mão no meu braço e me guiando para fora, pela outra saída, que fica mais próxima do banheiro.
            - Até a aula de espanhol! Ah, e acho que esse suco não mancha! - grita o-garota-da-Susan, depois, recebe uma cotovelada dela e se cala.
            O corredor está tão cheio de alunos quanto o corpo deles de hormônios. Conversando, rindo, se beijando, alguns sentados no chão entre as portas de classes e os armários, estudando, mandando mensagem ou vendo pornô. Muito provavelmente a última opção.
            O banheiro masculino é perto da sala de espanhol, e tem pelo menos cinco nomes e números de telefone escritos na parte de dentro da porta, tanto quanto desenhos obscenos e palavrões.
            Matt me puxa para perto da pia e me encara pelo reflexo do espelho que ocupa toda a parede. Ela já não parece mais tão irritado, já que é desse tipo. Poucas coisas o deixam realmente bravo (sendo uma delas Alexei) e mesmo quando milagrosamente o fica, se acalma muito fácil. Eu sou seu completo oposto. Uma bomba relógio de raiva e fúria contida prestes a explodir.
            Pelo espelho vejo meus olhos azuis arderem em chamas, meu maxilar está travado e levo a mão até os cabelos cor de petróleo e passo os dedos por eles, soltando o ar longamente. Ambas manias que tenho quando estou com raiva ou preocupado.
            - Fica calmo. - diz Matt, enquanto abre a mochila (que eu não percebi que ele havia pegado) e tira de lá uma camisa do time de basquete da escola. - Esse garoto é um completo babaca, e todo mundo sabe disso.
            Ele está um pouco atrás de mim, e estende a mão que segura a camisa, colocando-a sobre a pia em um local seco.
            - Você não tem treino hoje? - pergunto, enquanto olho para a camisa com o número 9 escrito atrás.
            - Tenho, mas posso pedir alguma roupa emprestada pro Brandon, ele sempre tem reservas no armário dele.
            Respiro fundo de novo e solto o ar, enquanto tiro a minha camisa molhada. O faço devagar porque não quero que a droga desse suco grudento se espalhe mais. Coloco minha camiseta sobre a pia e olho de lado para Matt.
            - Você poderia... - murmuro, e aponto para os papéis-toalha no outro canto do banheiro.
            Matt está parado, olhando fixamente para minhas costas, depois desce o olhar e inevitavelmente, sei o que ele está olhando. Sinto minha bochechas corarem um pouco e abaixo a cabeça, para que ele não veja minha vergonha. Somos "amigos coloridos", não é a primeira vez que ele olha pra minha bunda assim tão... indiscretamente, mas esse tipo de coisa me deixa envergonhado.
            Chamo seu nome e ele finalmente sobe o olhar, parece tão tranquilo, como se não estivesse me devorando com os olhos a poucos segundos atrás. As vezes a cara de sonso dele me deixa um pouco irritado. Ele anda até o papel-toalha e pega vários, depois molha-os um pouco na pia, somente o suficiente para umedecer e começa a limpar minhas costas.
            Quando desce até a base da coluna, passa a mão pela minha cintura e faz um leve carinho, que faz com que eu pare de me mexer e aperte os lábios. Não por ser desconfortável, muito pelo contrário, mas é uma sensação que me dá vontade de me jogar contra ele por mais, e eu decididamente não vou fazer isso aqui no banheiro da escola.
            Matt então termina de secar, agradeço a ele e no momento em que pego a camisa do time para colocá-la, ele se aproxima de mim, me abraça por trás e começa a beijar meu pescoço.
            Pelo reflexo do espelho posso vê-lo curvar-se e sua boca na curva do meu pescoço, e vejo a mim mesmo, deitando a cabeça para trás e mordendo o lábio com força.
            Ele segura minha cintura com força e lambe e morde minha clavícula. Isso é muito bom, muito bom mesmo. Me sinto inebriado e meio bambo, como se pudesse cair de joelhos no chão a qualquer momento, se Matt não estivesse me segurando.
            Ele sobe até minha orelha a morde-a alguma vezes em pontos diferentes. Não consigo resistir e enfiou os dedos em seus fios castanhos para depois puxá-los com força e o ouço fungar contra minha pele. Seu hálito quente me arrepia e fecho os olhos com o máximo de força que consigo.
            - Matt... - murmuro. Não quero que alguém entre e veja isso acontecendo, mesmo que saibam que sou gay. Quer dizer, não que a escola toda saiba de qual fruta eu gosto, mesmo que boa parte sim, e eu realmente não me importo com isso, mas não quero que me vejam... Assim.
            Com delicadeza, o empurro para trás, e ainda pelo reflexo do enorme espelho vejo seus olhos me encararem, demonstrando uma ingenuidade e inocência que sei não serem características dele. Sorrio de leve e me viro para olhá-lo de frente.
            Ultimamente essas seções de beijo entre eu e meu melhor amigo vem ficando mais constantes, quase todas as vezes iniciadas por ele e eu, honestamente, tenho achado essa maneira de agir um pouco estranha, já que nós geralmente procuramos estes "apoios sentimentais exclusivos" quando estamos mal, terminado um relacionamento ou só carentes. Coisas do tipo. Ele ainda não veio falar comigo sobre isso, e acho melhor dar espaço para ele se abrir quando sentir que for a hora.
            Pego a camisa do time e coloco um pouco rápido.
            - Que horas são? - pergunto, meio embolado com a camisa que por ser ligeiramente maior que eu, deveria entrar com facilidade, o que não é o caso.
            - Hm, faltam... - e escutamos o sinal para a aula de espanhol bater alto e ressoar pelo banheiro. - É, está na hora.
            Com um pouco de pressa termino de colocar a roupa emprestada de Matt e pego minha camisa suja na pia. Saímos do banheiro para dar lindamente de cara com a costumeira adorável multidão de adolescentes andando de um lado para o outro no corredor.
            Ao sairmos vamos direto para a sala de espanhol, e felizmente chegamos antes da professora e de boa parte dos alunos. Quando procuro um lugar para sentar vejo Susan acenar da última carteira para mim e Matthew. Ela guardou meu lugar favorito, última cadeira da fileira do meio.
            Assim que me sento, Matt pega a cadeira ao meu lado direito e Susan está do lado esquerdo, seu namorado em sua frente. Ela joga minha mochila em meu colo e diz:
            - Você é uma anta.
            Rindo eu a agradeço, guardo a camisa suja e embolada, e logo depois retiro meus materiais quando o "loiro oxigenado" e seu grupinho entram em campo. Diferente do costume, eles não estão conversando e gritando, ou infernizando a vida de alguém, na verdade eles estão estranhamente sérios.
            Vindo na frente, é claro, Alexei. Mas ele parece muito irritado, uma verdadeira fera! Sua pele clara está vermelha, e ele segura sua mochila como se fosse capaz de rasgá-la a qualquer momento.
            Parado na porta, ele olha em volta e prega seus olhos esverdeados nos meus azuis. Em uma muda linguagem mundial, posso entender perfeitamente o que ele está querendo me dizer. "Eu vou te matar." só não entendo porque.
            Fecho a cara e me levanto com força, enquanto ele vem até mim em passos fortes, quase posso ver o rastro flamejante por onde ele pisa. Ótimo, se ele quer briga, eu vou brigar. Apoio minhas mãos na mesa e espero ele chegar até mim, quando chega percebo que toda a classe está em silêncio, e durante alguns poucos segundos nos encaramos, até que ele explode.
            - Você é louco?! - ele grita, quando joga sua mochila em minha mesa - Quem você acha que é pra fazer isso? Você acha que alguém seu puto? Seu merda!
            Meu corpo treme. Não sei o que fiz, nem se realmente fiz alguma coisa, mas o simples fata dele ousar levantar a voz para mim e dizer essas coisas é o suficiente.
            - Eu não sei do que você 'tá falando, imbecil, mas eu não fiz nada! Acho que o louco aqui é você!
            Ele bate a mão com força no pouco espaço que não está sendo ocupado pela sua mochila e se aproxima, estamos bem próximos, o suficiente para que eu levante a mão e lhe acerte um soco no queixo, mas não o faço.
            - Foi você quem fez isso! - ele abre a mochila e aponta para dentro. Todos os poucos materiais que ali estavam e o próprio tecido está inteiramente sujo de cola líquida, tão lambusado que provavelmente daria perda total para todos aqueles livros e cadernos e até mesmo a mochila.
             Não resisto e começo a rir. O truque da cola. Simples, velho, ridículo e mesmo assim eficaz! Em meio as risadas, respondo:
            - Não sei quem fez isso, mas quando descobrir, preciso dar os parabéns!
            Alex se inclina e pega a gola da camisa que estou usando, me puxando para frente, rapidamente seguro seu pulso, mas ele não me solta.
            - Não sou o único que acharia engraçado ver você vermelho de raiva e tentando limpar a cola da sua mochila.
            - Mas você é o único retardado que seria capaz de fazer uma coisas dessas comigo, e achar que sairia ileso.
            Aproveitando a oportunidade, uso minha mão abaixada para socar sua barrida. Todos ao redor somem, sinto que posso explodir de raiva. Quando Alex se curva eu vou para trás, quase tropeçando na cadeira, mas por estar na ponta dos pés, o soco não foi forte e ele rapidamente se recupera e vem até mim.
            Quando ele segura meu braço sei que provavelmente vai ficar roxo, mas não me importo. Me preparo para socá-lo com a outra mão, mas ele segura o meu punho e me derruba, fazendo com que eu bata na cadeira, mas sequer sinto a dor. Caio para o lado e ele por cima de mim. Vejo seu punho vindo em minha direção, barulhos, falatório. Fecho os olhos... e nada.
            Abro-os e vejo nosso professor de espanhol curvado sobre Alex, Sr. Hattwhay segurando o cotovelo do mesmo com a pior cara que já o vi fazer.
            - Sala da Sra. Magilly, os dois... AGORA!


            Eu não aguento ficar sequer na mesma sala que esse estrupício, e agora tenho de ficar sentado no mesmo banco que ele, segurando a vontade de enforcá-lo, enquanto a nossa diretora gorda fala sobre  o quão difícil é manter seus 8 gatos longe de seus 5 peixinhos dourados. Eu quero morrer!
            - O Jimmy é muuuito encrenqueiro, ele chega até a abrir a porta pra tentar pegar o Thompson, o Micky, o...
            - Pelo amor de Deus, nos de logo uma punição! - exclama Alex, e essa talvez seja a primeira (e se Deus quiser, a última) vez que concordo com ele.
            - Ahn? Punição? Mas porque eu faria isso?... Ah, é mesmo! Vocês são o Rosengold - ela ajeita os pequenos óculos redondos, enquanto aperta os olhos - e o Fretcher!
            - Senhora, eu gostaria de pedir que não use meu nome do meio, se possível.
            - Fretcher?! - Alexei praticamente grita, e faço uma careta - Seu nome do meio é Fretcher? - ele começa a gargalhar com as mãos na barriga e trinco os dentes.
            Olho para a diretora, e de repente aquela gordinha fofa de bochechas coradas que só fala de seus gatos, realmente parece a diretora de um influente colégio londrino. Arregalo os olhos e percebo o porque de todos lhe chamarem de La Hada (do espanhol, significa, A Fada; leia as notas finais)*
            "Nas sextas-feiras nunca acontecem coisas ruins" repito para mim mesmo.
            Quando Alex lhe encara também ele para de rir, mas não parece assustado, apenas suspira e afunda no banco, colocando os braços atrás da cabeça e fechando os olhos. Quase deitado, ele pergunta:
            - Advertência? Detenção? Uma redação de três páginas? O que vai ser?
            - Aulas. - responde a Sra. Magilly.
            Alexei abre os olhos e parece confuso, mas nem por isso nervoso. Prefiro me manter em silêncio.
            - Se estiver falando de reforço senhora, eu já estou de recuperação, de qualquer maneira.
            - Eu não! - espera, não será justo eu ter de fazer aulas a mais sendo que até agora, tenho todas as notas.
            - Eu já venho pensando a algum tempo sobre vocês dois e suas desavenças e briguinhas. Nunca chegaram a se bater, essa foi a primeira vez mas, eu percebi que por algum motivo, vocês não se gostam. - ela fala devagar, como se explicasse algo para crianças do primário. - Então, eu resolvi que para resolver essas desavenças, teria que resolver primeiro o problema interno de vocês, cortar o mal pela raiz. James, você é o melhor aluno de biologia do segundo ano, enquanto é muito ruim em álgebra, estou certa?
            Meio apreensivo murmuro um "acho que sim" enquanto Alex começa a se sentar ereto lentamente. Acho, e somente acho, que estou entendendo o que ela quer dizer e onde quer chegar, mas somente Alexei poderá confirmar isso e estou torcendo com todas as minhas forças para que não seja o que penso.
            - E você, Alexei. A única matéria na qual não consegue tirar mais de 5 é biologia, não é? E é um dos melhores em álgebra.
            Num pulo, Alex se senta. É, é o que estou pensando. Afundo o rosto nas mãos e começo a murmurar tantos "não" que poderia preencher uma folha de caderno inteira.
            - Não! - ele grita, e imaginá-lo vermelho de raiva teria me feito rir se não estivesse com vontade de bater a cabeça na parede até entra em coma. - Não vou aceitar ter aulas com ele! Não vou ensiná-lo nada! Qualquer coisa menos isso diretora! Eu faço qualquer coisa, mas me recuso a deixar que ele me ensine!
            Levanto o rosto e juro que estou com vontade de chorar. Não estou nervoso nem irritado, mas acho que é aquela sensação de quando um parente querido seu morre, e você se sente vazio. Não, um parente muito querido meu ainda não morreu, e não, não diga que estou exagerando.
            - E se dissermos não?... - pergunto apreensivo.
            - Bom, - ela responde, e gira um pouco na cadeira, não chegando a ficar de lado - Nenhum de vocês dois é 100% em espanhol, e depois do show que fizeram hoje tenho certeza que o Sr. Hattwhay não se importaria de ser mais "rígido" com vocês. - eu não sei o que ela quer dizer com isso, mas está me assustando - E não seria difícil convencer o resto do comitê estudantil, vocês estariam muito encrencados, e a melhor nota que conseguirem tirar não seria o suficiente.
            Acho que se ela tivesse sido mais específica eu não estaria tão nervoso. Ela está falando de ser reprovado? Ficar de recuperação? Ela não pode fazer isso... Ou pode...
            - Já que hoje é sexta, acho que seria interessante se vocês começassem seus estudos no sábado, considerando que faltam duas semanas para o início das provas, e eu quero ver as melhores notas de biologia  e álgebra, na mão de vocês.
            E então ela sorri, um sorriso tão sínico que acho que foi assim que o Demônio sorriu quando Hitler chegou no Inferno.
            A gorda... Digo, nossa querida diretora, se levanta da cadeira e de pé, posso ver que é ainda mais baixa do que pensei, então ela se encaminha até a porta e sorrindo, estende o braço, num gesto que diz que devemos sair.
            Nos levantamos e assim que a porta se fecha, sinto Alex segurar-me pela gola da camisa mais uma vez hoje.
            - A culpa disso é sua! Se você não tivesse posto cola na minha mochila eu não teria que...
            - Já disse que não fiz nada! - e o empurro, fazendo com que ele me solte. - Vamos acabar com isso está bem? Eu odeio você, e você me odeia, isso nunca vai mudar e eu nem gostaria que acontecesse. Quanto mais rápido eu fizer você aprender biologia, e eu aprender álgebra, podemos nos livrar um do outro!
            O encaro durante alguns segundos, e dando um suspiro irritado, ele retira um papel amaçado do bolso, anda até um armário não muito longe dali, coloca a senha e pega uma caneta. Apoiando-se nos armários ele escreve algo e então volta e me estende o papel, que agora posso ver ser a nota fiscal de algum fast-food com seu endereço escrito, numa letra mais bonita do que imaginei.
            - Antes do almoço, na minha casa.
            Quando ele estava prestes a se virar e sair, pergunto:
            - Aquele armário era seu?
            Alex vira de costas e guarda a caneta no bolso da calça jeans, quando já estava quase na porta da sala, mostra o dedo do meio para mim e entra.
            Ouço o sinal bater, aula de química agora. Nossa professora de química é legal, mas do jeito que estou acho que seria capaz de matar qualquer um que me dirija a palavra.
            Enquanto as pessoas começam a sair das salas para as próximas aulas, guardo o papel no bolso sem o menor cuidado e ando até a sala de espanhol repetindo "Nas sextas-feiras só acontecem coisas ruins".
  • Feita por Akemi-chan

9 comentários:

  1. Muuuuitoo bom!
    Estou louca para o próximo! >.<

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  2. Ai ai esses dois *-* Continue Continue te imploro preciso disso pra viver

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  3. Adorei seu jeito de escrever! A história flui muito bem e eu sinto que conheço as personagens há séculos, embora ao mesmo tempo sinta que elas vão me surpreender! Continua, please!

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  4. Continua ... gostei muito!!!

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  5. já faz muito tempo desde a postagem do inicio da historia, só posso supor que aconteceu algo com a Akemi-chan, e ela nao pode continuar a historia, uma pena, mas um dia quem sabe

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